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OS CARBONÁRIOS

Na minha ITIÚBA, lá no meu Urubu e região todo mundo falava, que o menino do RAIMUNDO (No caso eu, o neto do MESTRE RAIMUNDO SOUZA), era sabido. Alarme falso. Sabia ler, escrever, algumas operações de aritmética, quantos ossos tinha o corpo humano, o nome de alguns filósofos gregos, quem descobriu o Brasil... mas não sabia que o Brasil estava coberto por um regime ditatorial, que eu estava crescendo sobre uma ditadura. Melhor, eu nem sabia o que era ditadura, o que era regime, repressão... vim tomar conhecimento disso quando li OS CARBONÁRIOS (Li porque achei. E o livro era de um colega de trabalho, Ivan Ribeiro Bordin). Enquanto estava lendo, um colega e amigo, Alípio Viana Freire, viu e me presenteou com outro livro sobre o tema, COMBATE NAS TREVAS do Jacob Gorender. Achei o tema interessante, marcante... chocante. Comecei a tomar gosto e resolvi ler tudo que encontrei. A colega Solange Melendez, me emprestou 1968 O ANO QUE NÃO TERMINOU, do Zuenir Ventura, comprei OLGA, LAMARCA, O QUE É ISSO COMPANHEIRO e tantos outros, fora os que ganhei. Porque além do tema me interessar, eu era (sou) apaixonado por leitura. Me orgulho de ser da época da leitura, da paixão pela leitura. Garotos vendiam jornais nos faróis, cidadãos no trânsito aproveitavam o farol fechado para folhear o jornal, no ônibus, metrô e trem estavam quase todos ocupados a ler, fora os "caronas" que eu, particularmente detestava, porém, também eu, quando não encontrava meu jornal preferido na banca, pegava carona no jornal alheio e detestava, quando ele virava a página antes que eu terminasse minha leitura. Isso, pela manhã, na ida para o trabalho, à tarde, na volta, era os livros que se via nas mãos dos usuários do transporte público (Essa, era a nossa tela. Tinha emoção. As telas de hoje, geladas, esfria, afasta, individualiza as pessoas.). Os curiosos, ficavam olhando disfarçadamente, qual livro você estava lendo (eu ainda faço isso), para julgar você, ou interromper sua leitura, para puxar assunto, ou pedir informação sobre aquele título. Nunca esqueço que eu estava lendo OLGA, do Fernando Morais e uma senhora me abordou com a pergunta: nossa, você está lendo esse livro? Respondi com um misto de ironia, raiva, orgulho, não sei em qual ordem. Respondi que estava era relendo, visto que gostei tanto da primeira leitura, que tive que repetir. Essa senhora, desatou a falar de Olga, tão inflamada, que todos ficaram a olhar para nós. Mais para ela. Eu ainda sou usuário do transporte público e estava triste, porque não via mais pessoas lendo e sim, com o celular na mão assistindo vídeos inúteis (penso). Felizmente a partir deste ano tenho notado o brilho da capa de um livro, competindo com o brilho frio da tela de um celular. ALELUIA! Ah, devo dizer que não virei carbonário, não sou CARBONÁRIO, tenho apenas simpatia por ideais patrióticos.


S. Paulo, 08/10/2025

 
 
 

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